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O projeto de pesquisa

Atualizado: 8 de abr. de 2020

Subsídios teóricos, objetivos e metodologia

Em instituições de ensino superior e nos colégios de aplicação, projetos de pesquisa devem ser escritos, avaliados por comissões e então colocados em ação. No meu caso, após avaliação e aprovação da COMPESQ-CAp, também foi necessário submeter o projeto à Plataforma Brasil, uma vez que a pesquisa envolve discentes.

O que você pensa: reflexões teóricas são importantes para a construção da prática docente?

Eu acredito que sim, por isso, elaborei um projeto de pesquisa cujo campo de atuação é a Educação Básica.



O QUE CARACTERIZA O PROJETO DE PESQUISA "O LIVRO É UM CONVITE"?

No livro Literatura pra quê?, Antoine Compagnon indaga: “[...] quais valores a literatura pode criar e transmitir ao mundo atual? Que lugar deve ser o seu no espaço público? Ela é útil para a vida? Por que defender a sua presença na escola?” (COMPAGNON, 2009, p. 20). As perguntas são essenciais, e as respostas, por sua vez, multiplicam-se, pois explicitam e representam filiações teóricas e concepções de ensino. Contudo, nesse cenário, uma certeza emerge: no âmbito escolar, a leitura literária está presente – ou, ao menos, é defendida como uma prática imprescindível. Para confirmarmos tal assertiva, basta revisitarmos os documentos orientadores do ensino básico brasileiro.

Tanto os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) quanto a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) apresentam e descrevem como objetivo inerente à educação básica a formação literária dos alunos, isto é, práticas docentes que promovam o letramento literário1 . No primeiro documento, a leitura – a qual transcende o ato de decodificar – é descrita como fonte de informação e, entre outras possibilidades, figura como “via de acesso aos mundos criados pela literatura”; esta, por sua vez, é descrita como “possibilidade de fruição estética” (PCNs, p. 33) e, por isso, deve ser valorizada; já no segundo documento, na lista de competências a serem desenvolvidas no Ensino Fundamental, especificamente no componente curricular Língua Portuguesa, encontramos esta descrição:



Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura. (BNCC, p. 85)



A percepção da literatura como uma arte humanizadora não é novidade; segundo Antonio Candido, o encontro do sujeito com a literatura possibilita o enfrentamento do mundo, do ser humano e da sociedade; sendo assim, a literatura humaniza, pois permite o “exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor” (CANDIDO, 2011, p. 182). Diante da capacidade humanizadora da literatura (e da arte), posso afirmar, compartilhando as palavras de Tânia Rösing, que a “literatura pode transformar pessoas passivas em sujeitos críticos” (2012, p. 94).

A importância da leitura literária – na vida escolar e fora dela – é, pois, consenso. Entretanto, privilegiar ações educativas nas quais a leitura literária seja a protagonista, por outro lado, é um desafio, uma vez que exige uma série de (novas) posturas didáticas dos docentes. Se a escola pretende formar leitores literários, primeiramente, é preciso compreender os sentidos implicados nos conceitos “leitura”, “letramento” e “literatura” (não necessariamente nesta ordem) para, depois, associá-los às especificidades de cada segmento escolar. Uma prática docente consciente de suas filiações teóricas e orientações pedagógicas, sem dúvida, potencializa a possibilidade de êxito.

Tendo em vista esse cenário, manifesta-se a pertinência do projeto de pesquisa aqui apresentado, chamado “O livro é um convite: projetos de leitura e formação de leitores na educação básica”. Primeiramente, o projeto alinha-se às reflexões contemporâneas acerca do letramento literário e da formação de leitores; em segundo lugar, após compreender a essência e os pressupostos teóricos que balizam o projeto Amora (etapa na qual localizam-se os sextos e sétimos anos do ensino fundamental II), no Colégio de Aplicação da UFRGS, considero que a pesquisa a ser desenvolvida contribuirá para a elaboração, para a estruturação e para o desenvolvimento de práticas docentes que objetivam a formação literária dos alunos.

Assumindo a leitura literária como uma experiência e os eventos de leitura como práticas de letramento literário, podemos, efetivamente, implementar o ensino de literatura (o ato de ler) enquanto prática social e cultural. Por isso, como explicam Teresa Colomer e Anna Camps (2002, p. 90-2), no ambiente escolar, “dar razões para ler, multiplicar e variar as situações de autêntica leitura é o principal desafio para uma renovação educativa que deve superar o engessamento dos hábitos rotineiros de leitura assimilados anteriormente”. Mais uma vez, revela-se a inquietação motivadora deste projeto de pesquisa: como trabalhar a leitura literária na educação básica, especificamente no CAp-UFRGS?


Metodologia

Este projeto de pesquisa, no primeiro momento de sua aplicação, terá caráter bibliográfico, quando abrangerá corpus teórico e literário – respectivamente, revisão dos conceitos apresentados anteriormente e leitura de livros juvenis. Após o levantamento teórico, as hipóteses que subsidiam este projeto de pesquisa serão testadas; eu, professora e pesquisadora, acredito que projetos de leitura – tendo em vista a conceituação que me acompanha neste momento, antes de principiar a revisão teórica – são eficientes métodos para auxiliar a formar leitores na Educação Básica. Uma vez que estarei em sala de aula regularmente com os discentes, quando a segunda etapa da pesquisa acontecer, teremos uma pesquisa-ação, pois participarei da situação a ser investigada. Diante desse quadro, fica evidente a importância da pesquisa – já na segunda etapa – enquanto relato de experiência, a qual terá, evidentemente, sido pensada, planejada e executada. À medida que os projetos forem desenvolvidos e aplicados, pretendo alimentar uma plataforma com todos os estudos organizados, para, assim, auxiliar outros professores.



REFERÊNCIAS


CAMPS, Anna e COLOMER, Teresa. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.


CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.


COENGA, Rosemar. Leitura e letramento literário: diálogos. Cuiabá, MT: Carlini & Caniato, 2010.


COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. Tradução de Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2007.


COMPAGNON, Antoine. Literatura pra quê? Tradução de Laura Taddei Brandini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.


COSSON, Rildo. Letramento literário. São Paulo: Contexto, 2010.


JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2002.


PETIT, Michèle. A arte de ler ou como resistir à adversidade. Tradução de Arthur Bueno e Camila Boldrini. São Paulo: Ed. 34, 2009.


RÖSING, Tânia Mariza Kuchenbecker. As (muitas) facetas da leitura e os caminhos a serem explorados. In: Retratos da leitura no Brasil 3. FAILLA, Zoara (org.). São Paulo: Instituto PróLivro, 2012.


SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.


Muitas ações pedagógicas já saíram do papel; algumas delas configuram efetivamente um projeto de leitura, uma vez que se organizam em várias etapas, convidam outros componentes curriculares a atuar e estabelecem relações entre diferentes áreas do conhecimento; outras dessas ações organizam-se a partir de objetivos mais pontuais e, por isso (e talvez por falta de amadurecimento das ideias), figuram como atividades mais isoladas e não como projetos de leitura.


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