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Pesquisadora de Iniciação Científica: Thaís Boardman de Souza

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Pesquisa:

EU ME VEJO: REPRESENTAÇÃO E REPRESENTATIVIDADE NAS OBRAS LITERÁRIAS PRESENTES NO PROGRAMA NACIONAL DA BIBLIOTECA NA ESCOLA 2013


É comum nos identificarmos com uma personagem de um livro e nos inspirarmos em suas ações para fazer a diferença no mundo real, essa transformação pode acontecer quando uma criança negra identifica um protagonista também negro ou quando uma pessoa não cisgênero reconhece outro igual nas obras literárias, na mídia ou como um ícone da cultura pop. Quer dizer, evidenciamos a existência de pessoas pertencentes a uma minoria em espaços nos quais normalmente a mesma não está presente. Essa conexão com a personagem nos ajuda a resolver dilemas pessoais e nos mostra que existem outras pessoas passando pela mesma situação que enfrentamos. Esse sentir-se representado e identificar-se com alguém que está sob os holofotes (seja na vida real ou na ficção) ainda é algo que é negado a milhões de pessoas em todo mundo, principalmente se eles ou elas são pessoas não-brancas e fora do padrão heterossexual, cisgênero e classe média.



Na sala de aula, na Educação Básica, não há dúvida que a literatura, devido à sua subjetividade, é um meio de debater os temas pertinentes da sociedade, como racismo, LGBTQfobia, igualdade de gênero, entre outros. De acordo com Teresa Colomer (2003, p.14) “nos livros infantis, mais do que na maioria dos textos sociais, se reflete a maneira como uma sociedade deseja ser vista”. Em razão disso, fica mais evidenciado a importância de se ler livros que reflitam a nossa sociedade de forma mais ampla, contemplando as minorias historicamente excluídas, e ainda assim respeitando as individualidades de cada um. E apesar dos esforços do público e do mercado literário, no Brasil, os maiores mediadores de leitura literária são os professores e as bibliotecas escolares.


No que tange ao Estado, o governo federal, tem realizado projetos, campanhas e programas voltados para a garantia do acesso à leitura. Essas ações do governo constituem políticas públicas para o incentivo à leitura, como a implementação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), e em especial o objeto dessa pesquisa, o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), entre outros. Segundo Jouve (2002), a leitura, principalmente a literária, é uma experiência de libertação e de preenchimento que renova a percepção de mundo, modifica o olhar sobre as coisas e, por isso, possibilita formas de exercer a cidadania.


Alinhado a isso e entendendo a literatura como prática social e cultural, a pesquisa aqui apresentada pretende salientar a importância da formação de leitores literários e cidadãos críticos, verificando de que maneira representação e representatividade influenciam nessa formação.

 

O que é o PNBE?

O PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) é um programa do governo federal que promove o acesso e incentivo à leitura através da distribuição de acervos de obras literárias.


As políticas públicas de incentivo à leitura se destinam principalmente para a distribuição de livros e não para efetivamente a formação de leitores, pois, como assegura Célia Regina Delácio Fernandes (2013), na obra Leitura, literatura infanto-juvenil e educação, entre livros e leitores há importantes mediadores que, além da família, têm no professor figura fundamental na construção de uma história de leitura para cada aluno. Afinal, “cabe a ele o papel de desenvolver no aluno o gosto pela leitura a partir de uma aproximação afetiva e significativa com os livros” (FERNANDES, 2013, p. 32).


 

Depois de analisar o acervo disponibilizado pelo PNBE, em 2013, para os últimos anos do Ensino Fundamental, constatei que, entre as 120 obras selecionadas, quatro apresentam protagonistas negros, são elas:



Nas demais obras, os personagens são majoritariamente brancos, o que não corresponde ao pertencimento étnico-racial da maioria das crianças do nosso país, pois, segundo os dados iniciais do Censo de 2019, ao agregarmos os pretos e pardos na categoria de negros, a população brasileira é composta por 55,8% de não brancos, o que corresponde a mais do que a metade da população brasileira.


Apesar do número absurdamente pequeno de personagens-protagonistas negros nas obras literárias, observei que as obras, de um modo geral, valorizam aspectos culturais e enaltecem e reconhecem a cultura e a história africana, a identidade do povo negro.

Alinhando-se às ponderações de Silva (1999, p.64), segundo a qual “a produção da identidade e da diferença se dá, em grande parte, na e por meio da representação”, as representações encontradas nas obras analisadas contribuem “para negros orgulharem-se de sua origem africana, para os brancos, permitir que identifiquem as influências, as contribuições,a participação e a importância da história e da cultura dos negros, no seu jeito de ser, viver, de se relacionarem com as outras pessoas” (Brasil, 2004a).



REFERÊNCIAS


BRASIL, IBGE. Censo Demográfico, 2019. Disponível em <ibge.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2019.


BRASIL, Ministério da Educação. Parecer CP/CNE nº 3/2004. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana - Relatório. Brasília: Mec, 2004a.


CANDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antônio. Vários escritos. 4 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul; São Paulo: Duas Cidades, 2004.


COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário: narrativa infantil e juvenil atual. São Paulo: Global, 2003.


FERNANDES, Célia Regina Delácio. Leitura, literatura infanto-juvenil e educação [livro eletrônico]. Londrina: Eduel, 2013. Disponível em: http://www.uel.br/editora/portal/pages/arquivos/LEITURA%20INFANTO%20JUVENIL_DIGITAL.pdf. Acesso em 18 de fevereiro de 2019.


GUIMARÃES, Antonio Sergio. Cor e Raça. In: Raça: novas perspectivas antropológicas. SANSORE, Livio, PINHO, Osmundo Araújo (Orgs). 2. ed. Rev. Salvador: Associação Brasileira de Antropologia, EDUFBA, 2008.


GUIMARÃES, Antonio Sergio. Racismo e Antirracismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.


HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções de nosso tempo. Educação & Realidade, 1997.


_____. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro. DP&A. 2006.


SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

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